Sinceramente? Não dá para ficar se lembrando de Marajó todo o tempo. O lugar é simplesmente demais para quem está à procura de paz e tranquilidade, com muito sol. Então, a saudade de Marajó será constante: Salvaterra e Soure, que se denomina a "capital de Marajó" vivem ao rítmo do século passado mesmo. Já disse para uns amigos e vou dizer novamente: se me pedirem alguma opinião sobre praia e descanso de férias, recomendarei a Ilha de Marajó. Por isso, para falar da saudade que estou sentindo dos "40 Dias de Exílio", uma homenagem a Marajó, o mais lindo de todos os lugares que Deus me permitiu por os pés até o momento. Particularmente, a Praia do Pesqueiro. Lógico que quero ir mais longe.
Mas, acordei com saudades de Belém. Por incrível que pareça. É, na verdade, uma mistura de sentimentos, muitas vezes contraditórios. O que falar de Belém? Algumas definições: É a segunda cidade mais populosa da região Norte e a maior região metropolitana da Amazônia, com cerca de 1,424 milhão de habitantes - embora os belenenses juram que chega a 2 milhões. É popularmente chamada de "Cidade das Mangueiras" pela abundância de exemplares dessa árvore em suas ruas, e conhecida como Metrópole da Amazônia.
Sua contínua mancha urbana é constituída por cinco municípios. Também é denominada "Cidade Morena", característica herdada da miscigenação do povo português com os índios Tupinambás, nativos habitantes da região à época da fundação. É a maior metrópole do mundo situada na Linha do Equador e a cidade com o maior IDH entre as capitais da região Norte. Atualmente é uma das 12 metrópoles mais influentes do Brasil.
A cidade, no entanto, tem características interessantes. A primeira vez que cheguei a Belém já fui mais ou menos preparado. Clima quente. Era uma expectativa porque para quem vive em Cuiabá, calor é redundância. Me falaram também da beleza da chegada. Fui orientado a escolher a janela no corredor do lado direito. Me preparei para tal. E é! A medida em que o avião vai descendo, a gente vai visualizando a cidade como um todo. Dali mesmo, de cima, uns mil pés, é possível estimar o quanto a natureza e o arrojo humano podem caminhar em perfeita harmonia. O ar frio do avião, no entanto, ainda não me permitia
saber se era quente ou não, mas, só de olhar a forma como Belém estava exposta ao sol, não tinha dúvidas.
O aeroporto é de primeiro mundo. Faz jus a importância da cidade no contexto sócio-econômico e político. Ainda mais se comparado ao acanhado terminal de Cuiabá. É parar rir? Então ria! Eu até hoje não entendo como um Estado brasileiro que se assemelha em importância econômica aos que estão no meio-oeste americano pode ter um aeroporto tão chinfim como esse de Cuiabá: uma vergonha!
Logo que a pessoa sai da bolha acondicionada do Aeroporto Val de Cans sente o impacto: é fumegante o calor. Me fez lembrar de Sanka, aquele personagem vivido por Doug E. Doug no filme "Jamaica Abaixo de Zero", quando, no
acondicionado aeroporto de Calgary, no Norte do Canadá, declarou que não estava sentindo frio; e, ao abrir a porta para sair ficou congelado. Porém, para quem está nos 40º na média, nada que logo não se acostuma. À saída do aeroporto é bonita. Duas pistas normais, na qual se passa na paralela da pista do Aeroporto Julio César, usado para vôos executivos. No Val de Cans predominam as operações comerciais e militares.
Dali você começa a sentir que Belém tem um "q" especial. A Duque de Caxias, que nos leva para parte mais central de Belém, é bem cuidada. Aliás, a parte urbanística de Belém está servida. Há muitas praças e a arborização é, de fato, tratada como patrimônio. Não se faz necessário falar sobre a Estação das Docas com o seu por-do-sol espetacular, bucólico, motivo de inspiração poética; e tampouco da Casa das 11 Janelas e seus vários tempos de visita, cada tempo mais exuberante que outro - de dia uma coisa, de noite outra; bem como suas redondezas e construção históricas. Não fui no Ver o Peso, aquele mercadão. Passei várias e várias vezes ao seu lado, mas não tive coragem de parar. Depois eu explico. O Mangal das Garças é de tirar o fôlego. A parte antiga de Belém me fascinou também. Gostei muito dos bares, cafés e dos butiquins da cidade. As mediações da "Doca" de Souza Franco é sempre intensa.
Não se pode deixar de mencionar também a Brás de Aguiar, a via mais charmosa de Belém. Não fui no Museu Emílio Goeldi - tenho alguma resistência a museus em geral. Também só passei em frente - e muitas vezes nesses 40 dias - ao Teatro da Paz,erguido no centro da Praça da República, na qual perambulei uma única vez. Bem ao contrário da Praça Batista Campos, que me ajudou a reduzir o peso com seus 600 metros de espaço verde, alegre e familiar, na qual fui frequentador assíduo quase todas as noites.
São situações que me fazem sentir saudades de Belém. Calor? Muito menos que aqui. A chuva das 16 horas, que nem sempre acontece e nem sempre são as 16 horas, ajuda em muito a criar uma sensação mais agradável. Escorado na sacada do apartamento de frente para a Travessa Padre Eutíquio, que de travessa só tem mesmo no nome, curti inúmeras noites belenenses, tomando açai com farinha de tapioca - que, gostaria de incorpora a minha alimentação diária. Ficava horas olhando um faixo de luz que sai da Baia do Guajará. Como não entendo nada de defesa de território, acreditava que aquilo é parte de uma estratégia militar para cuidar do espaço aéreo. Eu ria! Pode rir também.
Agora os belenenses, incluindo meu amigo Trindade, vão querer me matar, mas não tive como deixar de notar - e anotar - coisas estranhas na cidade. Diria que nem tudo são flores por lá. O trânsito de Belém, por exemplo, tinha tudo para ser um dos melhores do país. O asfalto não é ruim, pelo contrário. As vias não são estreitas, pelo contrário. A sinalização parece funcionar bem, com placas indicativas e alertas. A geografia urbana da cidade é favorável. Mas, os caras, misericórdia: eles são ruins demais - como de resto de uma maioria que coloca em risco a vida das pessoas pelo simples prazer de querer dirigir um carro. Há um contraste cruel: os ônibus te assustam com a velocidade que impõe nas vias. Se olhar no retrovisor, como deve ser a prática de qualquer motorista, verá um ônibus fazendo uma manobra arriscada. Se ver um, fuja imediatamente! De outro lado, os taxistas não estão nem ai para os outros. Dão mal exemplo a todo tempo.
As pinturas no asfalto e as placas pedindo para não se fechar os cruzamentos foram deletados dos ensinamentos de uma direção saldável. E ai de quem, com o sinal aberto, parar antes da faixa para evitar que se propague o congestionamento. Tome buzina. Aliás, eu nunca vi uma cidade onde os motoristas buzinam mais que em Belém. Parece orientação das Escolas de Trânsito: "Tá ruim, buzine até cansar". Para finalizar, a mesma pressa que demonstram é "compensada" pelo desrespeito: param em plena fila dupla, ligam o pisca alerta e entram em edifícios, etc e tal. Demais para minha reles cabecinha.
Outra coisa que me chamou a atenção! Desculpe, mas tenho que dizer: o esgoto. Gente, que maldade com a cidade. Não consigo entender como um governante permite. Não! Não! Não! Não consigo entender como um povo aceita aquilo. A Brás de Aguiar, a via mais charmosa de Belém, com lojas e restaurantes finos, frequentada pelo "povo bacana", é ladeada por um esgoto que corre a céu aberto. Podre! Podre mesmo! Não! Me desculpem, mas parece surrealista. A Brás é só um exemplo! O cuidado na hora de estacionar nessa via não é com a traseira de outro carro ou passar o vexame de bater com o pneu no meio-fio. É, na verdade, na hora do passageiro descer do carro e atolar literalmente o pé no esgoto. Na chuva forte, então... Por ai tem uma foto. Gente! Isso faz mal a saúde e também ao turismo.
Amei Belém, odiei o seu esgoto. Odiei seus motoristas de ônibus. E odiei a sujeira. Não gostei da campanha eleitoral. Vi todo o segundo turno. Na rua, Dudu e Priante pareciam "cães de briga". Na TV, não falam objetivamente nada com nada. Aliás, não entendi porque nenhum dos dois falou sobre o problema do esgoto a céu aberto da cidade. Ficaram falando de Copa do Mundo, Conferência, etc e tal, e nada do assunto. Penso que eles pensam muito grande e se esquecem dos detalhes. Algo para se pensar!
Quanto a sua gente, algumas coisa me chamaram a atenção. O belenense é apaixonado por Belém. Se elogiar a cidade, vai ouvir um "obrigado" do interlocutor nativo como se estivesse falando da casa dele, da família dele. É a senha para vir em seguida um sem número de perguntas: "Esteve na Estação das Docas?", "Foi na Casa das 11 Janelas", "Foi no Mangal", e por ai afora... Se não cortar, "paga" um check-list considerável. E, ao mesmo tempo que "rola" esse orgulho latente, o belenense joga lixo no chão das vias públicas sem a menor preocupação e os donos de cachorros raramente recolhem os cocôs de seus animais quando estão em passeios. Estranho, não?
Falar de Belém sem mencionar sua principal atração, o Cirio de Nazaré, soa estranho. Assim como tudo aquilo é estranho para mim, que sou evangélico. Mas, convenhamos, é uma manifestação cultural que impressiona. Pela TV, assisti as pessoas se matando - ou quase isso - para segurar numa corda. E eu pensava na crucificação de Cristo como símbolo da aquisição da humanidade por Deus, dos pecados da humanidade, e Ele dizendo "venham a mim". Mas deixa isso prá lá! Crença fora e convcções a parte, o negócio é que o Círio é um "fervo" só. Gente! É quase insano aquilo. Não resisti a curiosidade e fui ver com os olhos e a máquina fotográfica. Quanta adoração. E os candidatos aproveitaram a festa católica. A cidade pára, totalmente. Um negócio e tanto!
Mas, não sei se volto a Belém. Talvez um dia! Não entendi ainda o que Deus desejou com a minha ida até lá. Ainda estou procurando as respostas. Sei que elas vão aparecer no tempo de Cristo. Até lá, Belém será uma saudade de um tempo interessante. Daí a saudade ter batido. Eiiii.. Volta logo...